ENTRE SAUDADES DA CASA E O SONHO DE UM DIA TORNAR MÉDICO

29/06/2023 21:03

ESTUDANTE INTERNACIONAL REVELA QUE AINDA NÃO CONSEGUIU SE ADAPTAR À
REALIDADE BRASILEIRA.

Virissimo Cabral Mingo, estudante internacional da Guiné-Bissau cursa medicina na UFSC-Araranguá e está no quarto período, conta em entrevista ao Blog “Fala de Estudantes Internacionais da UFSC” como tem sido o seu processo de adaptação à realidade brasileira.

Virissimo ingressou na UFSC para cursar medicina por meio de um convênio (PEC-G) que o seu país manteve com o Brasil há muitos anos. Por causa da pandemia de COVID-19 e restrições a viagens internacionais, Virissimo que nunca teve uma experiência universitária teve que começar a estudar online a partir do seu país, que para ele foi um desafio que nunca antes tinha enfrentado

Como foi estudar on-line na Guiné-Bissau?

“Até aquele momento, nunca antes eu tinha experiência de fazer aulas online. Sabia que ia ser difícil, tanto porque a Internet no meu país, além do valor monetário ser alto, também é instável. Tanto que em muitas situações não dava para entrar e assistir aula ou entrava mas as pessoas não conseguiam ouvir a minha fala. Era horrível mas acabou dando certo.“, revelou Virissimo.

VINDA AO BRASIL

Quase no meio de 2022, Virissimo chegou ao Brasil com mala extraviada e teve que passar um mês para ter de volta a sua mala, durante aquele período contou que teve ajuda de amigos que fez aqui no Brasil. Recém chegado ao Brasil com consciência que a aula presencial iria ser mais desafiadora que a remota.

ADAPTAÇÃO AO ENSINO BRASILEIRO

Como enfrentou o seu primeiro semestre presencial?

Era o meu primeiro inverno no Brasil, Araranguá tem bastante frio, sofri muito, nunca na minha vida passei aquele tipo de frio. No meu primeiro semestre presencial, um dos módulos do curso era sobre neurologia, qualquer aluno da medicina que passou por ele sabia que não era fácil e para mim não foi exceção. Eu estudava todos os dias porque o método do curso (PBL) exigia isso. Parecia que não entrava nada, na verdade a forma que eu estudava que estava errada, depois tive conversas com meus professores e colegas acabei melhorando e o final do semestre foi bom.” revelou.

O que achou da realidade brasileira?

“O Brasil, apesar de ter algumas coisas parecidas com o meu país, são bem diferentes. Gostei e também já assustei com várias coisas que tem aqui e que não tem no meu país.”.

Como tem enfrentado a saudade da casa?

Perdi a conta do dia que não parei para pensar na minha família e meus amigos na Guiné-Bissau. Às vezes dá vontade de voltar para casa, porém sempre lembro que minha missão no Brasil ainda não acabou.”, revelou num tom com algum grau de tristeza.

Virissimo destaca que o problema da sua adaptação à realidade brasileira não tem haver com falta de acolhimento, em depoimento. “Desde que cheguei a este país sempre tive sorte de encontrar pessoas com coração aberto no meu caminho, tenho amigos que hoje considero irmãos. O problema maior é que saí do meu país, mas ele não saiu de mim. Continuo acompanhando tudo que é notícia de lá.”, confessou

PAÍS DE ORIGEM, GUINÉ BISSAU

Apesar de dificuldades em se adaptar, Virissimo falou que hoje já se sente adaptado ao ensino brasileiro e o curso está indo tranquilo e quando formar pensa voltar ao seu país e ajudar o seu povo. “Já me sinto bem adaptado ao ensino brasileiro, e cursar medicina numa universidade pública daqui é como se fosse uma oportunidade única, para se tornar médico e voltar ao meu país ajudando meus irmãos guineenses que tanto necessitam de cuidados médicos.” finalizou.

ESTUDANTE INTERNACIONAL REVELA NÃO SENTIR ACOLHIDO NOS PRIMEIROS MOMENTOS NA UFSC “PASSEI POR PROCESSO DE ACOMODAÇÃO SOZINHO”

17/06/2023 02:22

Crasimir Sambé, estudante internacional da Guiné-Bissau, doutorando em Política Linguística pela UFSC – Florianópolis, revelou em entrevista ao blog “Fala de estudantes Internacionais da UFSC”, que não se sentiu acolhido nos seus primeiros dias na Universidade e teve que passar por processo de acomodação sozinho durante aquele período:

Passei uma semana almoçando sozinho na restaurante universitário sem ter ninguém para conversar, percebi que talvez as pessoas me evitava por razões que não quero cogitar que seria, isso foi um pouco chocante” começou por lamentar para de seguida revelar que é um assunto comum com estudantes internacionais sobretudo africanos.

Depois tive conversa com alguns conterrâneos africanos, nomeadamente guineenses e angolanos, disseram a mesma coisa, que nas primeiras semanas tiveram essa sensação de as pessoas não quererem compartilhar a mesma mesa com eles” finalizou.

Crasimir Sambé também é músico, obteve mestrado em Política Linguística pela UFSC no semestre passado, depois de ter licenciado em Letras – Língua Portuguesa pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileiro (UNILAB), começou neste semestre doutorado na mesma área do mestrado.

Nessa entrevista contou uma “cena dramática” que passou com uma menina no caminho pela universidade: 

Teve um dia, eu estava indo para universidade, do nada uma menina teve que mudar de direção para não se encontrar comigo, e é uma cena bem comum com todo africano aqui…” lamentou.

Por fim, Crasimir acredita que tanto a UFSC, assim como outras instituições universitárias do Brasil “focam mais na formação intelectual, deixando de lado o componente humano”, para ele é urgente mudar essa lógica dando mais relevância à formação humana.

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